Por Derek Thomas
“Embora ele me mate, eu espero nele” (Jó 13:15) – As famosas
palavras de Jó resumem a postura que devemos ter em relação a Deus quando sofremos.
Porém instruções sobre como manter essa postura surgem de uma fonte surpreendente:
Eliú.
Em Jó 32, os “consoladores” de Jó, Elifaz, Bildade e Zofar saíram
pela esquerda, e um homem novinho em folha e mais jovem, entra à direita do
palco, queimando de raiva porque Jó “se justificou” e seus amigos “não
encontraram resposta” para ele (vv 1-3)
Os comentaristas estão profundamente divididos sobre Eliú e seus
quatro discursos em Jó 32-37. Alguns o descartam completamente por repetir o
mesmo ponto de vista dos amigos de Jó: sofrimento é colher o que você semeou –
nem mais e nem menos. Outros comentaristas acreditam que Eliú está adicionando
algo novo na conversa. João Calvino viu a resposta para o problema do sofrimento
em Eliú. Eu mantenho uma posição intermediária. Eliú começa bem e termina mal. Ele
começa nos ensinando algo novo sobre o propósito do sofrimento, mas termina
repetindo a mesma velha história. No entanto, ao longo do caminho, o que ele nos
ensina sobre provações pode nos ajudar a confiar em Deus quando sofremos.
Aqui está a primeira coisa que Eliú nos ensina:
- 1) Provações Não São Motivo Para Questionar o Caráter de Deus
Se eu fosse destacar um verso em
particular do discurso de Eliú, ele seria “Na verdade, Deus não procederá
impiamente, nem o Todo Poderoso perverterá o juízo” (Jó 34:12).
Qualquer que seja a resposta para
o problema da dor e sofrimento, não pode ser uma resposta à custa do caráter de
Deus. Não pode ser à custa da justiça de Deus, da integridade de Deus. O
caráter de Deus não muda, então nosso sofrimento deve se encaixar com o que
sabemos a respeito do caráter de Deus. Essa é uma verdade intransigente.
É é uma verdade que não pode, de
forma alguma, ser alterada para entender nosso sofrimento.
“Na verdade, Deus não procederá
impiamente.” Essa declaração trata do caráter de Deus, mas também tem a ver com
o amor de Deus dentro de seu caráter. A resposta para o problema do sofrimento
não é meramente que Deus é soberano. Deus não pode pecar. Todas as coisas que Deus
faz, Ele faz a partir de um princípio do caráter de Sua bondade. Quando
sofremos, não podemos questionar isso.
Sugiro que Eliú faça mais duas
coisas para nos ajudar a entender o problema do sofrimento. Ambas estão subordinadas
a um princípio: Eliú vê o sofrimento como instrutivo. Parte da razão porque
Deus permite o sofrimento em nossas vidas é porque ele quer nos ensinar algo.
- 2) Provações Nos Ensinam Algo Sobre Quem Somos
No prólogo do livro de Jó, nós
temos Deus avaliando o caráter de Jó. Ele era um homem piedoso. Ele evitou o
mal. Ele era, de todas as formas, um crente modelo. Mas isso não significa dizer
que Jó é sem pecado ao longo do livro. Na trajetória de seu sofrimento, algo do
caráter pecaminoso de Jó emerge de uma forma que não é lisonjeira para ele.
O sofrimento pode nos levar a ver
algo de nós mesmos. Eliú captura isso quando diz: “(Deus)Ao aflito livra por meio da sua aflição, e por
meio da opressão lhe abre os ouvidos” (Jó 36:15). O sofrimento pode abrir
nossos ouvidos e pode ensinar coisas a nosso respeito. Revela do que você é
capaz. No decorrer da provação, em sua resposta ao sofrimento, ele pode
manifestar coisas a seu respeito que você não acreditaria ser possível. O pecado
pode se revelar no decorrer da provação, mesmo que não seja a causa da provação.
Quando a dificuldade aparece em nosso
caminho, nossa resposta nem sempre é boa. Nós respondemos com raiva injusta e acusações.
Nós questionamos a bondade de Deus. Nós questionamos o direito de Deus nos tratar
dessa maneira. Nos esquecemos que somos Sua criatura para sermos moldados como Lhe
agrada. Quando isso acontecer, devemos tomar a cruz e seguir o Senhor Jesus. Não
foi isso que Ele disse em Cesareia de Filipe? Tome sua cruz e O siga. Negue a
si mesmo. Negue a si mesmo, seus direitos, privilégios e status, seja qual for
a vontade de Deus, e siga a Cristo.
- 3) Provações Nos Ensinam Algo Sobre Quem Deus É
Embora seja verdade que provações
podem trazer a luz que você de outra maneira não teria aprendido sobre seu pecado,
mesmo isso pode ser considerado um sinal misericórdia e graça de Deus. O autor
de Hebreus fala sobre o aspecto disciplinar das provações:
E já vos esquecestes da exortação
que argumenta convosco como filhos: Filho meu, não desprezes a correção do
Senhor, E não desmaies quando por ele fores repreendido;
Porque o Senhor corrige o que ama, e açoita a
qualquer que recebe por filho.
Se suportais a correção, Deus vos trata como
filhos; porque, que filho há a quem o pai não corrija? (Hebreus 12:5-7)
Deus não pune você como se você fosse
um descrente, como se fossem meros peões na vasta máquina do cosmos onde não há
rima nem razão. Deus está tratando vocês como filhos. Sim, é doloroso. Isso dói.
Mas Deus está disciplinando você, porque você é seu filho. Ele ama você, e através
da disciplina, ele está conformando você mais e mais na imagem de Seus Filho
Jesus Cristo. Por meio das provações, Deus esta nos conduzindo a apreciar algo
de Sua misericórdia.
Descansando em Deus
Eliú enfatiza a soberania de Deus. Jó, também, acreditava na
soberania de Deus. Mas quais as implicações da soberania de Deus? Significa que
nós não temos o direito de ter todas as respostas para nosso sofrimento. Penso
que Eliú começou bem e identificou uma área de dificuldade na luta de Jó por
respostas. Mas ao longo de seus discursos, ele é barulhento e impetuoso. Ele nos
ensina, no entanto, algo sobre sofrimento como uma maneira de Deus nos instruir,
como uma maneira de trazer uma nova percepção de quem somos, quem é Deus e o
que é a vida.
Em Jó 28, Jó faz a pergunta: “Porém onde se achará a
sabedoria” (v12). A sabedoria é encontrada em Deus, na submissão a Deus,
na submissão a seus caminhos. As provações nos lembram que Seus caminhos não
são os nossos caminhos e pensamentos não são nossos pensamentos, então quando
sofrermos, descansemos Nele.
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